quarta-feira, 20 de maio de 2015

MANN - Arqueologia e Eros



O Museu Arqueológico Nacional de Nápoles é um dos lugares da Terra que o Estado Islâmico e os arcaicos pseudo-moralistas cristãos adorariam destruir. Claro que o Museu é um lugar belo e fantástico, com um precioso acervo de mosaicos, quadros, estátuas e objetos artísticos dos tempos pagãos, principalmente dos sítios arqueológicos de Pompeia e Herculano, cidades destruídas pelas nuvens de cinza expelidas do vulcão Vesúvio no ano 79 d.C. 


São peças preciosas que expressam o imaginário da mitologia greco-romana e do estilo de vida cotidiano da chamada Magna Grécia clássica.


Cavaleiros guerreiros e poderosos...

Sarcófagos ricamente decorados...


Deusas exuberantes...


No Egito antigo alguns animais eram mumificados e as estátuas eram comuns. Na Roma antiga também existiam estátuas de animais domésticos e selvagens, bastando lembrar que o símbolo da mãe adotiva dos primeiros romanos, Rômulo e Remo, era uma loba.



Poses dramáticas de mulheres tombando de suas montarias...

 
Atletas desnudos retratados em mármore...



E uma das mais fantásticas peças que já vi: Artemis de Éfeso, a deusa da natureza e amante dos animais.


Toda esculpida em alabastro e com a face, os pés e as mãos esculpidos em metal.



Dioniso e Eros, representados juntos, um furor dionisíaco erótico arcaico, marmóreo e clássico.



Antinoo, o preferido do imperador Adriano. Sua história foi contada por Marguerite Yourcenar no seu clássico livro, Memórias de Adriano. Manuel Francisco Reina também escreveu sobre ese caso de amor, no livro La coartada de Antinoo (Madrid: Planeta, 2012). Após a morte prematura de seu predileto, o imperador Adriano, inconsolável, mandou fazer estátuas do amdo e as espalhou pelo mundo antigo. Suas estátuas encontram-se nos museus do Vaticano, Atenas, Delfos, Paris, Nápoles...


Sátiro com Dioniso menino, outra representação carregada de pulsão sexual fálica.


Os famosos mosaicos romanos, recuperados das cinzas vulcânicas, estão nas paredes do museu.


Há alguns poucos museus especializados em sexo no mundo: Jeju Loveland, na Coreia do Sul; MoSex, o Museu do Sexo de New York; o Kinky Salon de Copenhaguem, especializado em bondage, disciplina, submissão e dominação; o Museu do Sexo, de Amsterdam; o Museu Erótico Beate Uhse, de Berlim; a Folson Street Fair de São Francisco, uma feira anual de sexo mais violento. Em Nápoles há o Gabinetto Segreto, uma série de salas que contém quadros, estátuas, objetos decorativos, mosaicos e afrescos eróticos. As peças foram reunidas em Nápoles no século 18, ficando separadas no museu por vergonha dos responsáveis face ao teor erótico explícito das peças. De 1819 a 1967, a coleção ficou restrita a estudiosos ou pessoas devidamente autorizadas a ver tão inquietante acervo. Em 1971 as sala sforam fechadas para "reforma" e assi mfivcaram até o ano 2000, quando o gabinete foi novamente reaberto.


Esse rara escultura representa, em mármore, uma ereção "dissimulada" pela toga.



O símbolo fálico era presente em todas as culturas antigas, do Oriente e do Ocidente.



Gregos, etruscos e romanos valorizavam o ato do amor e do sexo e os pratos, vasos, murais e gravuras tinham cenas variadas sobre as diversas modalidades sexuais.


Luminárias fálicas representavam a fertilidade, as boas colheitas, a vida e a alegria face à existência.



Guias e professores de artes orientam jovens e adultos por todas as dependências do museu.


Na livraria no museu estava um único livro sobre o Brasil e sua gastronomia, escrito pelo famoso chefe paraense Thiago Castanho. 

O Museu Arqueológico Nacional de Nápoles é um dos mais fantásticos e excitantes (sic) que conheci pelo mundo. É imperdível, graças as coleções clássicas reunidas e a maneira pela qual as peças são expostas ao público permitindo uma visão histórica e estética do berço de nossa civilização ocidental.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Itália – viagem ao prazer do passado




Como boa parte dos países europeus, a Itália é uma teia com várias camadas e matizes de lugares naturais insólitos, deliciosos ingredientes gastronômicos, exagero exuberante das artes, tudo em meio a edifícios, templos, palácios e malhas urbanas que incendeiam a imaginação. Além do povo, uma atração especial pela espontaneidade, rusticidade e instigante alegria mesclada à dramaticidade. 

Mas os cenários, naturais e culturais, são dramáticos. A geografia, a história – só o Império Romano é uma vantagem competitiva absurda em termos de destinos privilegiados -, a arquitetura, as ruínas e ecos do passado que se sobrepõe por milhares de anos, nos mergulha num fluxo incessante de gostos, visões, sons, prazeres e sensações que transformam a viagem em uma experiência sensual, reflexiva e transformadora. Desde que se entenda, pelo menos um pouco, o que se apresenta ante nossos sentidos. 

De Milão fui para Bologna, um lugar que desde criança me chama a atenção por causa de um pastificio chamado Bolonha, em Campinas (não  existe mais), que tinha como símbolo uma altíssima torre. Vi a torre, mas não subi os 90 metros de escadas íngremes porque tinha outros planos para o dia e minhas pernas cinquentenárias exigem algum recato fisiológico... 


A mais alta torre de Bologna. 

Visitei a praça central e os arredores. Fui à monumental (tudo na Itália é monumental) Catedral de São Petrônio, com os murais de Giovanni da Modena que mostram a concepção medieval do paraíso e do inferno, além das aventuras dos Reis Magos. A visão do inferno foi para mim inédita, original em sua representação das forças estéreis e frustrantes sobre a solidão abissal que o mal proporciona. 


Obs.:  A foto acima, do inferno de Modena, é a única desta postagem que não foi tirada por mim e sim da internet.

 Visitei longamente a Abadia Beneditina de Santo Estéfano, um complexo com várias capelas, salas e claustros, relíquias, preciosos objetos sagrados e uma atmosfera de paz e gozo espiritual. Conversei com um monge idoso que me contou parte da história do lugar e me apresentou outro monge, um senhor brasileiro com o qual troquei algumas palavras sobre amigos comuns. 


 A Abadia de Santo Estéfano, um complexo beneditino.


Numa das capelas há fotos dos pilotos da aeronáutica italiana mortos nas diversas guerras e acidentes ocorridos em tempos de paz. 


Nessa capela há essa gravura com a Virgem Maria, anjos e aeronaves cortando os céus. 

Comi em tratorias domésticas, com comida bem feita, vinhos honestos e serviço eficiente, sem frescuras. Foram indicadas por uma garota esperta do centro de informações turísticas, que me deu um mapa com as preciosas informações. 

À tarde subi os três quilômetros do mais longo pórtico do mundo, construído nas encostas de um monte coroado pelo Santuário da Beta Virgem de San Luca. Perto do topo há uma casa de retiros espirituais dos jesuítas, várias mansões dos residentes e, ao final da suave mas cansativa escalada, a magnificência da igreja diocesana de onde se avista parte da cidade e os campos verdes rodeados de colinas. Para isso poupei minhas pernas, para subir e descer o imenso corredor vazado por arcos e referências religiosas nas paredes e no teto.


 
Vista do interior do pórtico que leva à San Luca, um caminho com quase 3 quilômetros morro acima (ou abaixo. 


O pórtico é decorado com arcos, colunatas e detalhes externos. No lado interior há placas comemorativas e inscrições históricas.  


A vista e o templo são os prêmios para quem sobe o caminho coberto.

No meio dos feriados fui para Roma, o centro do mundo. Cheguei justamente na sexta-feira, primeiro de maio, e fui curtir a festa popular, tipicamente esquerdista, nos arredores da Basílica São João Latrão.     


São Francisco abençoa os comunistas e anarquistas na imensa praça em frente à igreja São João Latrão. 

Em plena primavera europeia, as hordas de turistas já congestionam as principais atrações destinos nas grandes cidades. No sábado andei pelo centro histórico, visitei duas igrejas famosas dos jesuítas (Santo Ignácio de Loyola, onde está enterrado São Luiz Gonzaga, meu patronímico e a Igreja de Jesus, umas das primeiras da ordem). 

Escultura em mármore no túmulo de São Luiz Gonzaga (1568-1591), um dos mais tradicionais santos jesuítas. Ele era primogênito de uma nobre família italiana mas renegou seus direitos hereditários para se tornar noviço na Companhia de Jesus. Morreu aos 23 anos vítima de tifo, após cuidar das vítimas dessa doença contagiosa e muitas vezes fatal.
 
À tarde, ingenuamente pensei em ir ao Vaticano, onde já estivera umas duas vezes, pois sempre é um prazer rever um dos mais significativos patrimônios religiosos do mundo. Pura ilusão. As filas para entrar na Basílica de São Pedro se estendiam por umas quatro horas. Perambulei pela praça, entrei nas livrarias e lojas de bugigangas pseudo-espirituais, olhei bem as pessoas de todos os cantos do planeta que ali se extasiavam e imaginei como fica a praça quando o popular Papa Francisco dá o ar de sua graça. Nos lojas e camelôs havia estatuetas dos últimos papas, menos de Bento XVI. Em compensação, na livraria oficial do Vaticano, estavam as obras completas de Joseph Ratzinger em várias línguas. Certamente ele será mais reconhecido pelos seus dotes intelectuais do que pastorais. Particularmente reconheço sua coragem em renunciar face à complexa situação provocada por alguns (poucos mas atuantes) membros cardinalícios e gestores da Cúria Romana que desonraram suas funções espirituais privilegiando o que há de pior no mundo material que é a corrupção, a falsidade e o egoísmo.


 As filas para a Basílica de São Pedro.



A sede da Igreja Católica Apostólica Romana vive uma fase de alto astral, graças à popularidade do Papa Francisco, um homem humilde, sábio e que combate a corrupção instalada na Cúria Romana e protagonizada por uma minoria ímpia mas atuante. Recentemente foi elogiado até por Raul Castro, o ditador cubano, em uma visita que ele fez ao Vaticano. 

Em Nápoles, sede do  T-Forum, fiquei por uma semana. O Mediterrâneo da Magna Grécia para mim é o mais fabuloso mar da terra. Por vários motivos: as cores cristalinas das aguas que permeiam do azul ao verde; as encostas e ilhas vulcânicas escarpadas; a vegetação dos vales e das partes mais elevadas do cenário; no caso da Itália, a atmosfera de dolce far niente; (no caso da Grécia, Turquia e outras paragens do Oriente Médio, o fascínio de um hedonismo tépido); a beleza que todo esse conjunto proporciona; e, finalmente, a história com suas culturas e civilizações. 


Uma das marinas centrais de Nápoles com o vulcão Vesúvio, ao fundo 

Neapolis (Nova cidade, em grego) foi construída na época em que os gregos dominavam a região, subjugada posteriormente pelo Império Romano e ao longo dos séculos dominada por vários povos, até se tornar parte da República Italiana. É a Itália austral, mais pobre, mais caótica, com suas ruas sujas, seus becos estreitos onde roupas são colocadas nas minúsculas sacadas para secar, com centenas de prédios históricos magníficos (alguns em ruínas ou abandonados), lojinhas de uma porta com todo tipo de alimentos, artesanato, roupas, tralhas para vender. Seus palácios e castelos revelam um passado glorioso. A natureza da baía napolitana é um anfiteatro onde a vida explode intensa e breve, algo lembrado pelo vulcão Vesúvio (Tânatos, sempre à espreita de devastação e morte) e pelo litoral local, até a ponta de Sorrento e as ilhas de Capri e Ischia, lugares onde Eros impera desde os tempos imemoriais. 


Vista napolitana do 30º andar do hotel NH Ambassador.

Pobreza e riqueza, lixo e luxo, estéticas sacras e profanas, mar e montanha, caos e cosmos, tudo se amalgama nesse euro-paraíso austral. Ao sul está a Sicília, outra preciosidade rodeada pelo mar e assombrada pelo Etna, seu vulcão particular que dá pavor e fertilidade para suas terras pródigas em uvas, cítricos, roseirais e outras delícias. Ainda há a Sardenha, Córsega, Malta, ilhas gregas e turcas, o norte da África e o Oriente Médio. Para o poente as costas ensolaradas francesas e espanholas, as ilhas Baleares, os mistérios marroquinos (ah, Paul Bowles...) e as colunas de Hércules, onde o Mediterrâneo encontra o oceano Atlântico, completam essa mescla histórico-cultural que influencia e marca a região celebrada por Fernand Braudel (em sua obra, O Mediterrâneo).


A visita à Pompeia é uma lição de história e uma lembrança de nossa efemeridade. Em um dia do ano 79 d.C., o Vesúvio explodiu em uma torrente de gases letais e lava e matou repentinamente milhares de pessoas, sepultando as cidades de Herculano e Pompeia e congelando seu cotidiano sob metros de cinzas para serem redescobertos séculos depois e apresentados aos nossos olhos dois mil anos depois.
 


Vista parcial do anfiteatro de Pompeia.
 

Fila de turistas curiosos esperando para entrar no antigo lupanar (prostíbulo) da cidade.


O pequeno lupanar tinha cubículos com camas de pedra. Seria para evitar que os clientes demorassem muito e agilizasse a rotatividade do local  



 As ruínas da cidade e seu algoz, o Vesúvio.




A ilha de Capri fica a 45 minutos de Nápolis, uma travessia feita em barcos velozes. Uma de suas mais famosas atrações é a Gruta Azul. O acesso é feitos por barco e depois por pequenos botes para quatro pessoas que passam raspando pelo teto baixo da gruta (noventa centímetros da água) e o barqueiro faz malabarismo para passar pelo túnel rochoso.


 Os barquinhos esperando para entrar na gruta Azul.

Essa é a gruta verde. As águas mediterrâneas são, em muitos pontos do extenso mar, límpidas, cristalinas e com tonalidades entre os azuis e os verdes.




Luxuosos condomínios, hotéis, restaurantes, lojas, casarões antigos e ruas íngremes, em meio à vegetação e encostas exuberantes, se espalham por Capri e Anacapri (na foto).  


   
Desde os tempos pré-romanos a ilha de Capri é destino dos que curtem a natureza, sua beleza selvagem mitigada há milênios pelos confortos das civilizações que se sucederam no domínio da ilha. Outro destino insular próximo é Ischia, além se Sorrento e a costa almafitana, situados no continente.


Luxo e riqueza em meio à pobreza do sul da Itália, Capri e seu entorno possuem uma gastronomia típica, assim como as diversas regiões da Itália. Claro que o clima mais quente e a beleza natural ajudam no processo da fome à digestão, um dos muitos destaques dos famosos destinos mediterrânicos.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

t-Forum - The Tourism Intelligence Forum - Milano


De 4 a 7 de maio de 2015, realizou-se em Nápolis, Itália o t-Forum - The Tourism Intelligence Forum, uma iniciativa de Jafar Jafari e sua equipe internacional. A finidade é diminuir o abismo entre os estudos acadêmicos de turismo e o setor corporativo da área.













http://www.thetourismforum.com/globalconference    
 



A seguir as fotos da apresentação de Jafar Jafari onde ele coloca a evolução e a fragmentação, tanto dos estudos sobre turismo como das atividades empresariais ou corporativas na área. Essas fotos são para simples referência inicial.

O grande crescimento das pesquisas, publicações, escolas e interessados em ensino e investigação em turismo, provocou também uma fragmentação da área e um afastamento progressivo das empresas e corporações que planejam, instalam e operacionalizam a área. essas empresas foram igualmente fragmentadas (hospitalidade, restauração, agências e operadoras, transportadoras, órgãos oficiais de turismo, setor de lazer, recreação e entretenimento, segmentação em turismo etc.). O interesse desse evento que pretende ter cada vez mais periodicidade é diminuir o abismo existente entre a academia e as empresas e promover a integração e sinergia entre as ações dessas áreas.

OBS.: A USP é uma das instituições fundadoras, conforme pode-se ver nos slides posteriores. Os méritos devem-se ao Prof. Alexandre Panosso Netto, que participa desde o início das negociações e à Direção da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, que apoiou a ação fundadora.