domingo, 20 de janeiro de 2013

Impressões espanholas (1)



Férias significam, para mim e nessa fase da vida, lugares para curtir sem muita gente ao redor, com conforto, qualidade de serviço e preços razoáveis. Com boas comidas e bebidas, cultura, gente descolada e tudo o mais. A Espanha e Portugal encaixam-se perfeitamente nesse contexto. Claro que há outros lugares pela Europa e pelo mundo, mas a península Ibérica tem seus encantos. Por lá, sinto que meu DNA reconhece suas taras atávicas e se refestela numa civilização que tem tudo a ver comigo. Comecei minha viagem pela Epanha chegando em Barcelona. Da janela do Novotel, tinha essa vista da igreja da Sagrada Família, a grande obra de Gaudí. Um monumento em pedra à fé, à fantasia, ao devaneio, à capacidade humana de expressar em um meio físico a sua ânsia de transcedentalidade, começando pela estética. 



Voltei à Manresa, na gruta onde Santo Ignácio de Loyola escreveu seus Exercícios Espirituais. Hoje o lugar chama-se Cueva de Ignácio e é um centro internacional de espiritualidade. O link é:  http://covamanresa.cat/
Na foto, estou no altar da Cueva, em frente a um quadro que representa Ignácio escrevendo. Meu amigo da USP, o Reinaldo Pacheco, com sua esposa, Dirce, estavam comigo na visita. 

Parei em Tortosa (cerca de 200 km. de Barcelona), onde fiquei uma noite no Parador. Essa escultura fica no meio do rio que corta a cidade, feita em ferro fundido.


Esse é o acesso para o Parador. Há uns 90 Paradores na Espanha. Pertencem ao governo e vários estão em antigos mosteiros, fortes, palácios, igrejas ou casarões adaptados (ou reconstruídos) para hospedagem e gastronomia.

Crepúsculo em Tortosa, do alto do Parador.


Ao redor do Parador, que fica na parte mais alta da cidade, por ser um antigo castelo fortificado, amontoam-se casas em ruínas. Há muitos emigrantes pobres em Tortosa e a cidade é uma das poucas que possui seu casco historico bastante prejudicado pelas condições sociais.

Vista do prédio principal do Parador de Tortosa. Os blocos dos apartamentos ficam atrás e na lateral.

Entre as delícias de ditigir na Europa (pelo menos nos páises ocidentais) estão as boas estradas (muitas com pedágio), as paisagens, os bons carros e o fato dos motoristas sempre darem passagem à esquerda. Nunca, nem na Espanha, Portugal ou França), alguém me negou passagem. Eu penso que aquelas bestas que negam passagem à esquerda aqui no Brasil, são uns ressentidos, tem complexo de perdedores, devem ter problemas gastro-sexuais terríveis.


Essa escultura em pedra representa a evolução do universo, segundo o filósofo Ramón Llul. Está nos jardins do mosteiro beneditino de Montserrat (perto de Barcelona). Acho um ganho estético e existencial o fato de estar voltada ao abismo.


Essa menina levava a bandeja de doces para uma confeitaria. Disse que eu era blogueiro brasileiro e ela não se fez de envergonhada, posando com essa plataforma de açúcares e gorduras, feliz da vida.

A catedral de Segóvia. Um complexo arquitetônico gótico recheado de tesouros artísticos e históricos. Fiquei umas duas horas perambulando pelas capelas, corredores, abóbadas e recantos, plenos de quadros, esculturas, tapeçarias, peças religiosas e uma atmosfera diáfana e atemporal.


A catedral vista da torre mais alta do Alcázar, antiga fortaleza dos reis espenhóis, em Segóvia.


O complexo do Alcázar. Um dos castelos que respondem ao nosso imaginário sobre castelos, realeza e batalhas medievais. Deve ter algum ovo de dragão perdido nas masmorras.


Ávila. Um dos centros espirituais da Europa. Terra de Santa Tereza ( a primeira mulher doutora da Igreja Católica), São João da Cruz (ambos do século XVI), de místicos islâmicos e judeus. Suas muralhas são das mais bem conservadas da Europa. A catedral da cidade (na foto) está incrustrada no complexo fortificado e faz parte do sistema de defesa da cidade, que nunca foi invalida pelos infiéis.


Ávila, Segóvia, Salamanca e Valladolid são importantes cidades situadas entre 100 e 200 km de Madrid, sendo as três primeirasPatrimônios Culturais da Humanidade. Mas em Valladolid está o Museu Nacional de Escultura, uma das belezas do tesouro artístico espanhol.


Crepúsculo em Ávila, visto da parte alta da cidade.


Ávila e suas muralhas, vista da estrada.


Esse é o fac-símile da Bíblia de São Luís (1234). Está na catedral de Segóvia.



Em Segóvia. fui ao restaurante José Maria comer o cochinillo (leitãozinho), indicado pelo Félix Tomillo, nosso amigo ibérico.


Uma marca de Segóvia é o antigo aqueduto romano.



Essa é a catedral de Salamanca, estou na parte superior, onde seria o coro. Dá para ver a rachadura na parede bem em frente? Veja abaixo.


Essa rachadura foi feita no dia 1 de novembro de 1755, dia do terremoto que devastou Lisboa, matando umas 30 mil pessoas. Os efeitos foram sentidos na Espanha e no norte da África. Os engenheiros da época disseram que não haveria problema e deviam estar certos, pois se passaram mais de 250 anos e o edifício está em pé. Em Lisboa, várias igrejas desabaram matando os fiéis que lotavam as missas do dia de Todos os Santos.


Vista de Salamanca, do alto da catedral.

Essa é a magnífica porta da Universidad de Salamanca, a mais antiga do mundo. É possível visitar a universidade, ver suas salas antigas, o claustro, a biblioteca e depois comprar lembranças numa loja bem legal. Os cursos e administração estão esparramados  por outros edifícios da cidade. O prédio original é para visitação e para atividades acadêmicas especiais.


Um comentário:

Hospitality & Tourism disse...

Eis um diário deverasmente instrutivo. Coisa do seu DNA. Ah, Segóvia! Eu perdi uma visita àquele sítio porque alguém insistiu em ir a Toledo. Mas a vida não acaba hoje, logo, sempre é tempo, não?
Parabéns pelo registro dessas trilhas tão recentes