domingo, 1 de abril de 2012

Cruzeiros marítimos - más condições à bordo para tripulantes

Texto e fotos: Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Obs.: fotos meramente ilustrativas.

O setor de cruzeiros marítimos cresceu nos últimos anos, especialmente no Brasil. Vários casos mal contados - e apurados ou divulgados - de doenças a bordo, seja de passageiros ou tripulantes, chegam à mídia mas logo são esquecidos. Claro que as empresas de cruzeiros são economicamente poderosas e pressionam para que certas notícias sejam minimizadas ou, se possível,  sequer noticiadas. Mas os incidentes continuam. Depois vieram os grandes acidentes, como o do Costa Concordia, no ltoral da Itália e os navios com problemas tecnicos ficando à deriva em alto mar (foram dois casos em dois meses).

Semana passada vi no facebook o depoimento e a foto (pálido, magro, com o braço imobilizado por ataduras) de um ex-aluno da PUC-Campinas que trabalhou a bordo do MSC Opera. Seu nome é Elvis Figueiredo. Pedi que ele me mandasse algo mais detalhado e ele enviou com autorização de publicação nominal. Então publico abaixo o texto  de sua autoria (não coloquei seu nome, se ele quiser se identificará) pois centenas de rapazes e moças buscam trabalho a bordo pensando em em um certo glamour, uma aventura para conhecer parte do mundo e guardar dinheiro. Não é isso o que está ocorrendo, mas uma situação de exploração irresponsável e gananciosa, sem ética ou princípios mínimos de profissionalismo contra eese jovens trabalhadores(as). 

Que os que sofreram esses abusos denunciem e as autoridades brasileiras tenham uma aão positiva para coibir esses maus tratos de algumas empresas.



Texto a seguir de Elvis Figueiredo

"O que vêem ocorrendo nos navios MSC (meu Ópera) está virando um descaso.

No ano de 2011, foi regulamentada a TAC (Termo de ajuste de conduta)
que rege que toda companhia maritima que contratar brasileiros deve no
mínimo cumprir essas exigências, além das demais leis vigentes.

O que na realidade se observa abordo são:

1) Tripulantes trabalhando acima de 13horas, sendo que
   o permitido são 11hs, com intervalos pra descanso.
   Sobra apenas 03 horas à tarde e mais 04 horas na noite para repousar.

2) Tripulantes com dores musculares: coluna, pés, mãos, sintomas
   de gripe, que sem o devidos cuidados médicos ocasionam uma doença pior,
   como a pneumonia. Houve casos de óbito, como a garota do navio Armonia.
   Quando procuram atendimento médico abordo são taxados de fracos.
   Ah, é brasileiro!
   Absurdo: um atendimento proto-emergência atender apenas tri-
   pulantes das 08h00 às 09h00 am e 04h00 às 05h00 pm.
   Será que agora têm marca hora pra ficar doente ?

3) Devido ao trabalho exaustivo no restaurante, carregando
   bandejas pesadas de até 30kg, pessoas estão lesionando suas
   mãos e tendo problemas como Tendinite.

2) Supervisores MSC tentam ocultar e pedem para o tripulante assinar escalas
   com turnos reduzidos até 11 horas.

4) Alimentação da tripulação sem à devida higiene  e também
sem local adequado para servi-las. Isso causa dessaranjo intestinal em muitos
   tripulantes.

5) Área social adequada enexistente. Há um bar que vive lotado de fumantes e deixam 02
   mesas no mesmo local pra não fumantes, em um ambiente fechado.
   Será que funciona? Um refeitório que abre apenas nos horários da alimentação.
   Cabine que você divide com mais uma  pessoa, outras cabines para quatro tripulantes.

6) Água potável?! Você bebe água salinizada ou têm comprar!
   Lavar roupas? Pague um euro pra lavar e outro pra secar.
   Que ter sua cabine? Pague uma ajuda de moradia.

5) Há ainda abuso de autoridade, humilhação, abuso sexual, drogas, oferecimento de
   trocas de favores em retorno de outras coisas.

Eu estava cinco meses a bordo no Msc Ópera e na medida que meses passavam sentia minha

saúde se fragilizando. Diversas vezes procurei o atendimento médico
e o médico dizia que não tinha nada e voltasse a trabalhar. As gripes mal curadas
  foram se acumulando, além da fadiga e má alimentação.

Em janeiro, começei a sentir dores nos dedos e pulso da mão direita.
Mais uma vez procurei o médico e o mesmo ignorou o assunto, dizia que ia passar.

Essa dor ia aumentado, via que médico, cujos cuidados deveriam nos auxiliar, estava equivocado.

Então quando tive um tempo livre, desci e fui procurar médico no porto do Rio de Janeiro e ele
me instruiu a procurar um atendimento clínico urgente. Aquilo me
deixou preocupado. Fui a Protoclinica no Rio e consultei um neurologista que
ao examinar constatou Sindrome de Dequervain, me receitou uma injeção
direto na mão e mais 02 medicamentos e um exame de ultrasonografia.
Me atestou e disse pra sair do navio e me cuidar.

Nisso a gripe continuava e corpo dolorido. Voltei ao navio, fui falar com médico
e mais uma vez fez descaso do assunto. Que procurasse o Maitre e se eu queria fosse pra casa.
Procurei o maitre e informei que precisava ir embora. Mais tive que aguardar
mais uma semana, pois ele tinha que enviar o pedido para a Itália e eu tive que aguardar.
Será que era a minha morte?! Mas tinha medicamentos e sabia que o navio passaria em ilha Bela e Búzios, e que eu podia descer para ir ao médico, então aguardei.

Enfim, sai desse navio e logo fui atrás dos especialistas. Um exame de ultrasonografia
confirmou a lesão de tendinite e me surpeendi pois o que diziam a bordo ser uma gripe,
após analises clínicas, confirmou-se numa pneumonia, que por Deus estou tratando a tempo.

Quanto tempo vai levar? Realmente não sei?

Será que é mera coincidência sintomas como a da tripulante que morreu no Armonia,

serem os mesmos? Dizer que não existe contaminação não é verdade, pois tripulantes se encontram
nos portos, conversam e conatatam que é possível tramistir viroses. Onde está o controle sanitário?

Os orgãos de fiscalização querem esperar mais mortes para se manifestarem?


Previsões indicam aumento de navios na temporada 2012/2013, será que o Brasil
estará preparado caso ocorra uma pandemia?

Dizer que está tudo absolutamente sobre controle é ocultar a
realidade e ser cúmplice."



3 comentários:

Hospitality & Tourism disse...

O glamour dos cruzeiros marítimos acabou há tempos quando o alvo das empresas virou a classe média/média. Que todos possam usufruir desse tipo de lazer e entretenimento é ótimo e justo. Mas as empresas focam no custo e esquecem os benefícios para os seus clientes, internos e externos. Então os cruzeiros se tornam ameaças, jogos mortais. O estudante tem razão. Mas a lei? Ora...

@i.am.natalia disse...

Olá, gostei do post e precisava do contato do Elvis... é possivel? queria fazer uma entrevista com ele tambem.

Ernesto São Thiago disse...

Mercado de cruzeiros encolherá 15% em 2012/2013. Haverá menos navios e menos leitos. Será que existe outra informação falsa no relato?