sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011 - Os melhores momentos

2011 TOPS




Foi um ótimo ano. Intenso, cansativo e realizador. Dei três cursos na Universidade (dois na graduação e um no mestrado), viajei, assisti dezenas de filmes, li uns 40 livros, teses e dissertações e artigos. Participei de bancas de todo tipo, dei boas risadas, conheci gente legal e aprendi coisas novas, enfim, curti 2011.

Por que fazer os melhores momentos? Em primeiro lugar porque é gostoso. Nas universidades, em algumas ordens religiosas e programas de orientação profissional, as pessoas muitas vezes fazem seus memoriais, é a versão atual do antigo “exame de consciência”, que sempre traz benefícios, satisfações e reflexões. É bom lembrar e nomear os bons momentos e fatos de nossas vidas, especialmente as pessoas com as quais nos relacionamos e nos divertimos.

Sempre falo: é melhor vencer em equipe do que perder sozinho. E (quase) sempre estive em boa companhia.

Então eu fiz um pequeno balanço, do que aconteceu de melhor ou mais interessante, do ano que se encerra e o divido com você. Há coisas ótimas que aconteceram que não estão aqui porque a gente não deve expor tudo para todos. Os sentimentos e as sensações mais profundas de nosso ser é que nos oferecem lastro emocional, estabilidade psicológica e força de vontade para viver bem e são párea nosso consumo interno e secreto. Mas tem muita farra que podemos tornar pública. Vamos aos TOPS de 20122:

Festa: Reveillon em Florianópolis (SC), começando 2011 em grande estilo.

Carreira: No dia 31 de março, fui aprovado no concurso de Professor Titular da EACH-USP.

Preciosidade: o carinho e compreensão de meus amigos e amigas

Gadget: Meu adorável tablet Motorola Xoom (Claro).

Inovação: começar a dar aulas no mestrado em Estudos Culturais na EACH-USP

Existencial: terminei um belo affair sem (muitas) brigas ou ressentimentos.

Prêmio: segundo lugar no prêmio Jabuti de Turismo e Hotelaria, com o livro Turismo de Experiência (São Paulo: Senac, 2010; org. Alexandre Panosso Netto e Cecília Gaeta), onde escrevo o primeiro capítulo; ainda por cima, escrevi o prefácio do terceiro lugar, o livro Turismo rural, (São Paulo: Manole, 2010).

Diversão: cinema e viagens

Espaço de discussão e expressão: Facebook

Meu diário: meu blog

Pé na jaca: Encontro com amigos da USP, em casa.

Um saco: reuniões de oito horas na Universidade

Pessoa mais estúpida que conheci: já esqueci, não vale a pena...

Pessoa mais burra que conheci: já esqueci, não vale a pena...

Frustração: razoavelmente trabalhadas pois não há frustrações, apenas neuroses.

Uma curtição: os trabalhos dos meus alunos da disciplina “Entretenimento”, da EACH-USP.

Gente boa: as secretárias(os) da graduação da EACH-USP

Amizades: mantive todas e ainda construí as bases de mais algumas.

Saudades: as perdas e as faltas

Filme: A pele que habito, de Almodóvar

Livro (ficção): Todos os belos cavalos, de Cormac Mc Carthy.

Livro (clássico): As religiões africanas no Brasil, de Roger Bastide.

Livro (viagem): Trem fantasma para a estrela do oriente, de Paul Theroux.

Livro (espiritualidade): Inácio de Loyola – sozinho e a pé, de J. Ignácio Tellechea

Autor que me marcou: Anthony de Mello S.J. padre jesuíta indiano e descoladissimo pensador (morreu em 1987)

Melhor texto que escrevi: o primeiro capítulo do Turismo de experiência, intitulado A viagem como experiência significativa.

Viagem internacional: Barcelona, Manresa, Madrid e Valladolid (Espanha)

Viagem nacional: Jaguarão (RS) e cruzeiro no Costa Serena, em janeiro, para a Bahia.

Comida I: rodízio de ostras, na parte sul da ilha de Florianópolis

Comida II – um lechazo, cordeiro que só tomou leite materno, em Valladolid, Espanha.

Comida III – Os bolos escandalosamente deliciosos da minha prima Vanira (até postei no FB) e as reuniões com os primos(as) em sua casa.

Comida IV – A feijoada que o marido de uma amiga (que mora em Campinas, SP) faz e repetirá neste 31 de dezembro, no almoço. Estupenda.

Bebida: roteiro vinícola no Vale Del Duero, Espanha, em julho.

Natal – com meu pai e sua esposa, Marli, no Costa Pacifica, um cruzeiro até a Bahia.

Finalmente fiz: um back up do meu computador num HD externo.

Um futuro – as crianças da família e dos amigos(as).

Um desejo – 2012 com paz, amor, desapego e muita diversão para todo mundo.




Texto e fotos: Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Fotos tiradas a bordo do Costa Pacifica, Brasil, dezembro 2011.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Crepúsculo da véspera - um conto de Natal

Desejo a todos(as) um Natal significativo e pleno de paz. Hoje minha postagem é especial. É um texto originalmente publicado no dia 24 de dezembro de 1.999, no jornal Correio Popular de Campinas (SP). O texto é ficção, mas foi inspirado no meu tio materno, Juvenal Américo de Godoy Filho, hoje com 90 anos. Na época ele estava viúvo a pouco tempo e esse crepúsculo de sua vida inspirou o “crepúsculo da véspera de Natal” que novamente apresento para vocês, com mínimas alterações de estilo e algumas correções. 

Feliz Natal!






Crepúsculo da véspera

Nozes, figos secos e vinho do porto: uma combinação insólita para o quente Natal brasileiro, mas estimulantemente saborosa. O avô pensava nessas frivolidades bebendo mais um gole de Sandeman e olhava do terraço as luzes coloridas dos outros prédios e das ruas sem movimento. Os últimos raios do sol deixaram tonalidades coloridas no céu explodindo de estrelas. Era noite de Natal. Em breve um dos filhos o buscaria para a ceia, a primeira sem a sua mulher. A avó morrera no início do ano após um problema cardíaco grave e rápido. De repente, aos 78 anos, a morte deixou de ser uma idéia para tornar-se um espectro palpável que não mais o angustiava. Ele sabia que, no Natal, a dor da ausência se agrava e a saudade se domina a memória e o coração. A vida é uma sucessão de conquistas e perdas e agora, esperando passar o Natal com seus filhos e netos, refletia novamente sobre sua existência.

O que mais vinha à mente eram as lembranças dos Natais passados. Naquele tempo ele era o jovem e bem sucedido pai, cercado dos filhos, dos seus pais, de irmãos e sobrinhos, de amigos e de sua querida mulher. A festa em sua casa tinha Papai Noel, brinquedos e presentes para todos, árvore enfeitada e mesa generosa. Lembrou-se de um outro Natal, em Londres, com pouca neve e muito Armagnac, quando a filha mais velha fazia doutorado e morava em uma casinha perto da estação Candem Town. Depois vieram os Natais da maturidade com os primeiros netos e finalmente aquele dezembro terrível, quando o filho mais novo morreu em um acidente automobilístico, voltando de São Sebastião.

Lembrava-se também dos Natais distantes de sua infância em uma pequena cidade do interior, onde o tempo demorava a passar e o cheiro das damas-da-noite preenchia com volúpia os crepúsculos do verão. Na verdade, ainda havia algo desse cheiro na cidade, especialmente nas alamedas arborizadas. O cheiro das castanhas da infância era inesquecível de tão bom, assim como o cheiro do tender que sua mulher fazia e que, nem nos Estados Unidos, ele encontrou igual. O odor dos figos secos tornou-se real enquanto ele mastigava um espécime retirado de sua jarra de cristal, presente das bodas de ouro. Não havia mais castanhas no Natal, nem seus pais, nem o filho caçula, nem a esposa, nem o frescor da juventude que ele exibira em seus músculos até os 60 anos.

Mas havia o tempo presente. Guardara o cartão que seu neto lhe mandara depois da morte da avó: "Nada no mundo é permanente e somos tolos em desejar que uma coisa perdure, porém mais tolos ainda seríamos se não a apreciássemos enquanto a temos. — Somerset Maughan". Isso era razoável. Ele vivera intensamente, cumpriu seus deveres conjugais, paternais e profissionais. Esperava, ainda, completar alguns projetos e sonhos. Um deles viria em breve: o primeiro bisneto. Em meados de dezembro sua neta o convidou para jantar e, durante a sobremesa com vinho do porto, um parecido com aquele que agora lhe aveludava o paladar, contou que estava grávida de três meses. Era o processo vital em andamento. Os velhos diziam que sempre que um partia outro chegava, às vezes mais do que um, e a família crescia e se espalhava pelo mundo.

A notícia do nascimento dera-lhe alento no período pré-natalino e agora, na noite mais sagrada da cristandade, ele, que nunca foi religioso, refletia que uma criança realmente simbolizava o amor compartilhado, a esperança no futuro e a fé em algo que transcende nossa própria vida. Poderia ser uma transcendência meramente genética, mas já é alguma coisa. Algo como os livros que um tio escreveu na década de 1960, que ele de vez em quando pegava para sentir sua existência, já que eram sobre religiões comparadas e o autor, um sociólogo, morreu na década de 1980, uma das primeiras vítimas da Aids. .

Havia um último gole de vinho na taça. Olhou a bebida contra o horizonte, do alto do 18° andar e brindou ao futuro. Não apenas ao bisneto que veria em meses, mas aos tataranetos que muito provavelmente não conheceria.
Se estivesse em um navio, jogaria a taça ao mar. Sentia-se saudoso, mas satisfeito; perto da morte, mas disposto a viver cada último dia de sua vida. Sentia falta dos que foram, mas imaginava que as crianças da família tinham uma longa vida pela frente. Entrou na sala, acendeu a luz e o anjo, um enfeite de Natal, reluziu com suas vestes brilhantes e seu semblante refletido nas bolas vermelhas e douradas da árvore. A brisa trouxe frescor e o avô percebeu que os odores e sons de sua infância, de sua juventude e de sua vida madura se mesclavam no apartamento, deixado como a avó cuidava. Estavam ali o tio, em seu livro amarelado; o filho caçula, no quadro perto das samambaias; seus pais em seus genes; seus amigos na pequena adega, pois várias garrafas eram presentes antigos; e sua esposa, em tudo o que o cercava, inclusive nos filhos e netos.
O interfone avisou que o neto o esperava na garagem. Enxugou uma lágrima, deixou a janela um pouco aberta para a brisa entrar e olhou para o espelho. O velho bonito e com olhos brilhantes devolveu o olhar com outra lágrima, agora de alegria. Havia uma festa, uma família esperando-o e crianças aguardando os presentes e a mágica que a vida lhes reservava. Era o chamado da vida, o sentido e o significado do Natal. O elevador chegou e ele embarcou para o futuro.

Luiz Gonzaga Godoi Trigo

sábado, 17 de dezembro de 2011

Morte no mar - chegam os cruzeiros marítimos

Texto e fotos: Luiz Gonzaga Godoi Trigo

Claro que navios são muito seguros, mas todo ano algumas pessoas somem a bordo ou sofrem acidentes fatais. Em termos estatísticos são uma ínfima minoria, mas não custa prevenir chatices e encrencas a bordo.


Nos anos anteriores, o verão brasileiro dos cruzeiros marítimos terminou com algumas mortes, o que fez a imprensa especular sobre as causas e como evitá-las. A realidade é que as pessoas sofrem acidentes ou mal estar fatal inclusive nas férias em hotéis, ônibus, aviões e ... navios. Veja, por exemplo, no site www.cruisebruise.com o que pode dar de errado a bordo. Com o aumento de navios e passageiros nas costas brasileiras é estatisticamente provável que ocorram algumas mortes a cada estação, como acontece em outros lugares do mundo. Na década de 1980, trabalhei no navio Funchal, fretado pela agência Abreu, durante quatro temporadas e presenciei três mortes. Uma passageira (64 anos) morreu dormindo em sua cabine; um passageiro (70 anos) passou mal e morreu, também em sua cabine apesar dos cuidados médicos; o professor de ginástica, um senhor de 60 anos, sarado e saudável, teve um ataque cardíaco na minha frente às dez horas da manhã nas costas do Ceará, assim que terminou sua aula de ginástica e antes do torneio de tiro ao alvo que eu organizaria. Desci correndo, chamei o médico de bordo, levamos o professor para as instalações médicas (bastante austeras), mas o ataque foi fulminante.


Muitas mortes são evitáveis. Daniel DiPietro, 21 anos, viajava com amigos no Mariner of The Seas, da Royal Caribbean, a caminho de Bahamas. Desapareceu na noite de 15 de maio de 2006. Seus amigos reportaram o fato na manhã seguinte. A empresa avisou a Guarda Costeira no final da tarde. No meio de três mil passageiros algo assim passa desapercebido. Analisando as câmeras de bordo acharam o rapaz bebendo até se acabar em um dos bares de bordo e o funcionário parou de servir devido à intoxicação evidente. Ele foi para outro bar e bebeu mais. Depois ficou só numa das cadeiras do convés dormindo. Acordou, foi vomitar, debruçou-se na amurada de proteção e caiu ao mar. Seu corpo nunca foi encontrado. Muitas vezes o excesso de bebidas, combinado com o uso de drogas ilegais, pode provocar mal estar fatal em adolescentes e jovens. Por que bebem tanto? Porque estão longe de casa, os amigos bebem, eles já bebiam em suas casas ou em festas apesar de muitas vezes serem menores de idade e perdem a noção do perigo. O que fazer? Informar sobre os perigos que existem em um navio. Algumas vezes a intoxicação alcoólica e por outras drogas pode degenerar em convulsões, asfixia no próprio vômito na cama, problemas cardio-respiratórios e outras encrencas perigosas.

Sem contar que debruçar-se, especialmente bêbado ou drogado, para vomitar por cima da murada representa um enorme risco de queda no mar. Mesmo se for de dia, até o aviso chegar à ponte de comando, a ordem de parar máquinas ser cumprida, o aviso de “homem ao mar” ser dado e um barco de resgate ser lançado, já se passaram várias milhas e minutos. Se a pessoa não souber nadar, manter a alma e esperar o resgate, já era. Isso se for durante o dia e o mar estiver calmo. Se for à noite ou com mar agitado, já era também. Há exceções. Ouvi o relato de um passageiro que caiu, à noite, pela amurada, boiou até o amanhecer e foi encontrado por um barco de pesca que o resgatou. Sorte excepcional.

Há a possibilidade, pequena porém real, de eventuais crimes a bordo (veja no site acima indicado a seção murder, sex rape etc.). Lembro de um artigo (perdi a referência) onde um analista comentava que no Caribe e no Mediterrâneo, maiores destinos de cruzeiros do mundo, é preciso se prevenir contra roubos, ataques sexuais e até homicídios, pois em centenas de milhares de passageiros e com cruzeiros razoavelmente baratos, a possibilidade de embarque de pessoas mal intencionadas aumenta.

Mas viajar em um navio de cruzeiros é uma das experiências mais seguras que existem. Basta informar aos passageiros os cuidados mínimos e básicos que quase tudo pode ser evitado. Até o aumento de peso devido à comilança desregrada. Para quem for viajar, boa navegação.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

13ª Festa do Livro da USP

Está rolando, de hoje (quarta-feira) até a próxima sexta (16/12), a 13 ª Festa do Livro, na Politécnica (engenharias) da USP, na Cidade Universitária (Butantã, São Paulo).



O barato da Festa do Livro é que tudo é oferecido com pelo menos 50% de desconto. São 140 editoras, localizadas nos prédios da Mecânica, Civil e no chamado Galpão.

O site do evento é: www.edusp.com.br/festadolivro



Do lado de fora há barraquinhas (comércio informal) com livros, bijuterias, camisetas, filmes e coisas do mundo da arte e da cultura popular.


Aí está a equipe de vendas da Editora Aleph, responsável por várias coleções descoladas.


O Adriano Frommer, um dos diretores da Aleph, trouxe para o Brasil os clássicos mais clássicos de ficção científica e domina esse segmento. Li preciosidades de Arthur Clarke, Asimov, Philip Dick e Frank Herbert em traduções precisas e com estilo proporcionadas pela Aleph.


A Aleph é uma das poucas editoras que continua a publicar na área de turismo e hospitalidade e seu consultor é meu amigo e colega da EACH-USP, Alexandre Panosso Netto, recém chegado do pós-doc em Valladolid, Espanha. Para 2012 há novidades. Enfim, é muito bom ver os nomes dos colegas ( e o seu próprio) nas capas dos livros.



A Poli - USP oferece cenários hodiernos para momentos bucólicos como esse, onde o jovem casal (amigos, amantes?) desfruta do ócio intelectual.



Algumas editoras tinham filas e morundum para a compra dos livros, em evidente sinal de que há mercado para a literatura, desde que os preços sejam razoáveis e de acordo com nossa realidade sócio-econômica.


Este ano a prestigiosa Editora Parábola voltou à Festa do Livro e levou seu lançamento mais glamuroso, a Gramática Pedagógica do Português Brasileiro, de Marcos Bagno, professor da universidade de Brasília e um dos mais importantes linguistas do país. O volumoso exemplar (1054 páginas, primorosamente editadas por Marcos Marcionilo, o exigente e severo editor da Parábola) é uma peça de bom gosto, estilo e capacidade técnica. A língua portuguesa acaba de ganhar um patrimônio fundamental.


No calor do verão brasileiro, os galpões lotaram com gente interessada em cultivar a mente e os momentos significativos e prazerosos que o conhecimento proporciona.



Montes de livros, milhares de títulos e autores, tanta coisa que eu não li, mas quanta coisa ficou na memória e excita a curiosidade...


As editoras Cosac Naify e a Companhia das Letras foram as que mais ajuntaram gente ao redor de seu magnífico catálogo. Acima, a fila para entrar no estande da Companhia das Letras.


Finalmente consegui comprar essa preciosidade do Fondo de Cultura Económica, do México: Plantas de los dioses - origenes del uso de los alucinógenos. Tenho a primeira edição, de 1979, e essa nova edição é de 2000, renovada e ampliada. É a obra máxima da área, escrita por Richard Evans Schultes e Albert Hofmann. Hofmann é  cientista que sintetizou o LSD e outros alcalóides psicoativos, nos laboratórios Sandoz, da Suiça, na década de 1930. Essa editora mexicana de primeiríssima linha tem sede na rua Bartira, 351, em Perdizes (São Paulo), ao lado da PUC-SP.

Entre livros e conversas passou-se o meio do dia de hoje. A luxúria do ócio intelectual é abissal. Vamos fundo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Guia básico para festas corporativas

Final de ano é época de churrascos, festinhas, comemorações, coquetéis e até mesmo almoços ou jantares para comemorar a passagem simbólica de mais um ano. Quando a festa reúne colegas de trabalho, isso significa que alguns cuidados devem ser tomados para que você não pague micos ou seja o bobo da corte. Ou, ainda pior, seja demitido logo depois da farra ou tenha sua carreira comprometida. Festa de trabalho não tem nada a ver com festas familiares ou da universidade (quando se é estudante), onde geralmente a gente põe o pé na jaca e não se preocupa em ser pego de calças arriadas, aliás, muitas vezes faz questão disso mesmo.

Para evitar vexames e constrangimentos no mundo do trabalho, aqui está o Guia básico de Luiz Trigo para Festas Corporativas, um texto prático, exemplificado e comentado, para que você sobreviva às festas de final de ano e não fique com ressaca moral depois da esbórnia. Sei muito bem o que falo, porque nem sempre cumpri todas essas regras, mas sobrevivi aos percalços e geralmente soube onde amarrei minha capivara comportamental. Por via das dúvidas, leia e se cuide.

  1. Bebida

Cair de boca em tudo quanto é líquido é pavimentar o caminho para o desastre. O álcool nos deixa relaxados, informais, melancólicos, agressivos, desbocados e inconvenientes, não exatamente nessa ordem. Beba sem moderação só em casa ou com seus amigos íntimos e nunca com colegas de trabalho, porque seus chefes - aquelas pessoas que te detestam - estarão na festa esperando que você pise no tomate para te espinafrar. Não misture bebidas, não beba demais, não cuspa no chão e nem pense em usar drogas no banheiro ou no terraço, a menos que seja uma dessas festas bem cafajestes, bancadas por quem tem grana e quer te agradar para ganhar favores e os seus superiores são da camarilha, mas aí pode parar de ler isso aqui porque você está em outro nível. Em todo caso, lembre-se de que moral de bêbado não tem dono.

  1. Roupas

Sempre discretas, decentes e de qualidade. Se a festa for na piscina ou na praia, nada de sungas ou biquinis sumários. Se for algo informal, use tênis, jeans (ou bermudas) e camiseta. Para a noite ou em almoços mais formais, um blazer sempre dá um ar cerimonial. Evite gravata, a não ser que todo mundo use, o que é raro. Note que ninguém gosta de gordura, celulite ou estrias aparecendo e que higiene pessoal é obrigação básica. O mesmo vale para acessórios, cabelos, tatuagens, piercings ou marcas tribais, veja se o contexto cultural da festa permite certas liberalidades.

  1. A língua


Não fale mal da festa ou das pessoas que lá estão. Evidentemente essa é a parte mais divertida e sempre há muita gente que se expõe para ser ridicularizada ou achincalhada, mas ali não é o local adequado. Quando muito, comente com seus asseclas mais íntimos, lembrando que numa briga futura tudo pode ser usado contra você. Seja agradável, social, educado(a) e ouça mais do que fale, pois qualquer pessoa parece inteligente quando fica de boca fechada. Pode fazer comentários espirituosos ou contar casos interessantes, mas sem monopolizar a conversa ou querer se mostrar além do que é razoável e isso é difícil de delimitar. Nada de polemizar, discutir, fazer propaganda política ou religiosa, enaltecer seu time, fazer auto-elogios, mostrar fotos de suas crianças ou cicatrizes de acidentes ou cirurgias. Outra coisa, nada de propor o “jogo da verdade” com seus amiguinhos, pois sempre tem um(a) tonto(a) que não sabe quando parar de falar besteira sobre si mesmo e os outros, inclusive de você.  

  1. Onde ficar?


Circulando, fazendo networking, mudando de grupos e pessoas. Nada de se enfiar na sua panelinha e fazer carão aos outros, você não está numa balada. Não fique na frente de portas, escadas ou passagens atrapalhando o trânsito dos garçons ou dos convidados. Tenha certeza de que as pessoas que importam te viram na festa e cumprimente-os com sobriedade e polidez. Não grude em gente que não te quer por perto, a menos que você queira propositalmente irritar a criatura ou delimitar seu espaço profissional, mas não abuse desse artifício, pois festa é para se divertir e não para aporrinhar os outros.

  1. Como tratar as pessoas


Sem intimidades ou atrevimentos, sem gritar ou chamar a atenção para alguém ou um grupo. Fique na sua. Seus colegas não são seus amigos íntimos (muito menos seus chefes) e não é porque você tomou um vinho com sua superiora que ela vai te convidar para sua (dela) casa. Não fale palavrões fora do padrão médio do público onde você está. Não faça fofocas, intrigas, fuxicos ou conte piadas (muito) politicamente incorretas, você não sabe quem está ao seu lado ou qual a preferência sexual ou alimentar dos colegas. Se for apresentado a alguém mais velho, trate de senhor/senhora a menos que a pessoa libere o tratamento mais informal.

  1. Flertar 

Faça isso como os porco-espinhos fazem sexo: com cuidado, muito cuidado. Um olhar, uma gracinha de bom gosto ou um elogio espirituoso são passáveis. Agora, se perceber que teve permissão para aterrisar e gostou da oferta, converse, sorria, marque discretamente e saia para concretizar o pouso fora do ambiente profissional. Os outros na precisam saber com quem você dormiu depois da festa (ou durante, quem sabe). Atualmente o rótulo de “galinha” não pega muito bem, nem para homens, nem para mulheres. Se você trabalha num prostíbulo essa regra não se aplica, mas sempre há uma ética e etiqueta locais que precisam ser conhecidas e obedecidas em todos os lugares, até mesmo num lupanar.

  1. Estrepolias

Quer coisa melhor que subir na mesa, no meio da festa, berrar o nome do seu chefe e fazer uma rima terminando com hu-huuuuuu!!!  Mas é uma péssima idéia. Se você seguiu a regra número 1 (não beber), estará provavelmente livre desses micos execráveis como cantar músicas em coro, abrir a camisa para mostrar os músculos (ou a gordura), fazer trenzinho dançando com os colegas, tirar os sapatos ou jogar comidinhas (cerejas, amendoim, ovos de codorna, azeitonas, caroços de azeitonas) nos outros. Para aqueles(as) que piram apenas respirando oxigênio, não esqueçam de tomar gardenal antes da festa. O mesmo vale para certas brincadeiras e atividades recreativas, bom humor é bom, mas grosseria e chatices são detestáveis. Não tire fotos ou filme as pessoas em posições constrangedoras para depois colocar nas redes sociais, as festas corporativas são privadas e não devem ser expostas indiscriminadamente ao público. Eu mesmo, tenho algumas fotos indecentes de amigos(as) do setor profissional e morro de vontade de postar, mas enquanto  estiver lúcido não o farei.

  1. Dançar 

Sempre é bom e saudável, mas sem fazer coisas como a dança da garrafa, imitar travesti ou perua doida, encostar demais nas pessoas, passar a mão, dar tapas ou jogar os outros no chão, por mais que isso seja divertido e a gente já fez alguma vez na vida, provavelmente entre a adolescência e a senilidade. Faça isso na sua casa, mas nunca numa festa da empresa ou da instituição.

  1. Comida 

Pode comer à vontade e repetir (discretamente) quantas vezes quiser, mas nada de encher o prato ou falar de boca cheia. Se for uma dessas festas onde há comida para usar garfo e faca e não tiver onde sentar, procure algo que possa cortar com o garfo e mesmo assim você não terá uma terceira mão para segurar o copo. Nada de arrotar, fazer barulhos com a boca, palitar os dentes ou limpar os lábios na manga da sua camisa (muito menos nas dos outros). Não fale mal da comida; não elogie demais, pois você não passa fome; não se espante com entradas ou pratos exóticos, pois isso passa a imagem de jeca ou desinformado; se for alérgico a algo, identifique o perigo antes de por na boca, será horrível ter um choque anafilático no meio da farra; não cheire as coisas antes de comer; não pegue algo do bufê, olhe com cara de nojo e coloque de volta, se não gostou da gororoba, deixe no prato e depois jogue discretamente em algum lixo. Outra coisa, não pegue comida do prato dos outros, a menos que seja alguém muito íntimo, mas mesmo assim é uma ação duvidosa e desnecessária. 

  1. Lembrancinhas 

Nada de levar como recordação vasinhos de flores, bexigas, garrafas de bebidas, comida, copos, candelabros ou peças de roupas dos outros. Se derem um prêmio, ganhar algo no sorteio, entregarem uma lembrança para você levar, tudo bem, senão saia de mãos abanando pois passar por jeca ou miserável é a pior coisa que pode acontecer a um profissional. 

  1. Regra de ouro 

Última regra. Se nada disso funcionar, pelo menos lembre do 11º Mandamento: não serás pego em flagrante. 

Boas festas de final de ano e não faça nada que eu não faria.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dados sobre o turismo brasileiro

Em novembro, dei uma entrevista para a jornalista Graziela Guerra sobre a pesquisa que o Ministério do Turismo realizou sobre como os estrangeiros encaram nosso país. Bruno Omori, presidente da ABIH e Marcelo Traldi, professor de gastronomia (e meu amigo) do Centro Universitário Senac também deram competentes palpites a respeito. A matéria já foi ao ar mas você pode conferir no acessando o link abaixo:

http://vimeo.com/32327483