segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Melancolia - o filme

Melancolia, filme de Lars von Trier (2011) é belo, estranho  e inquietante. Se você vai  assistir e não gosta que comentem o final, não leia essa postagem. Senão, vá em frente.




A cena mais bonita do filme é a última, quando o planeta (Melancolia) se choca com a Terra e a destrói, assim como toda a vida nela existente.

A personagem principal, Justine, não via sentido em nada na sua vida. Bonita, caprichosa, tinha um trabalho promissor e criativo, um noivo que a amava, uma festa de casamento milionária, presente de seu cunhado.  A emoção que isso lhe trazia era próxima a zero. Tinha sua liberdade, sua consciência e sua melancolia perante o mundo, para ela totalmente ausente de significado e sentido.

O filme se passa em uma mansão bilionária, em um, litoral afastado nos EUA. A casa é do cunhado de Justine, que vive com sua irmã e o filho pequeno. No final, sobram Justine, Claire e o menino, conscientes de que tudo vai acabar. Para Justine, não há vida em outro lugar no universo, a não ser na Terra, e por pouco tempo. Para ela a natureza é má, a Terra é má. Ao saber da iminente destruição do mundo Justine, paradoxalmente, adquire mais disposição de viver. Quando sua irmã propõe que fiquem na varanda da casa, bebendo um vinho e esperando o fim acontecer, Justine pergunta se não quer também uma trilha sonora de Bethoven. Ñão há, portanto, sentido tampouco no vinho ou nas artes; se a natureza é má a cultura não pode sobrepujá-la.

Então o filme se acaba, como o mundo no filme, sem sentido? Não exatamente. Ao saber que seu sobrinho teme o que Melancolia pode fazer com a Terra, pois seu pai, já morto, disse que não havia onde se esconder, Justine o tranqüiliza, pois supostamente conhece o segredo da caverna mágica que pode protegê-los. Catam gravetos, fazem um esboço de tenda e se colocam sob eles, os três, enquanto o planeta se agiganta sobre a Terra para engoli-la.

Por que Justine cria uma fantasia para um menino que em breve, assim como toda sua espécie e a vida em seu planeta, desaparecerá para sempre? Por que tranqüilizar uma criatura com uma mentira inócua minutos antes de sua aniquilação? Pelo sentido da esperança oferecida aos jovens, mesmo que seja para tranqüilizá-los um pouco, em seus últimos instantes de vida. O amor  à inocência humana prevalece, mesmo ante a expectativa destruição total, inclusive da própria raça ou espécie. Se a arte e a cultura não sobreviverão, vale o gesto gratuito e inútil de uma semente de esperança oferecida a uma criança. É pouco, mas é sublime. 


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